Dor de Ouvido em Crianças? Entenda as Otites: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento
- Laura Sefair
- 7 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: há 14 horas

Se tem algo que aflige as crianças e, consequentemente, toda a família, é a famosa "dor de ouvido". Essa queixa tão comum geralmente está associada a um quadro de otite, que nada mais é do que uma inflamação ou infecção no ouvido. Como otorrinolaringologista e otorrinopediatra, quero ajudar vocês a entenderem melhor os diferentes tipos de otite que afetam os pequenos, seus sintomas, como diagnosticamos e quais os tratamentos mais eficazes.
O que é Otite e Quais os Tipos Mais Comuns em Crianças?
"Otite" é um termo genérico para inflamação do ouvido. Dependendo da parte do ouvido afetada, ela recebe nomes diferentes e apresenta características distintas. Em crianças, as mais frequentes são:
Otite Média Aguda (OMA): É a infecção súbita do ouvido médio (o espaço atrás do tímpano). Geralmente é dolorosa e pode ser causada por vírus ou bactérias, muitas vezes após um resfriado ou outra infecção respiratória.
Otite Média com Efusão (OME) ou Serosa: Popularmente conhecida como "líquido no ouvido" ou "catarro no ouvido". Ocorre quando há acúmulo de líquido no ouvido médio, sem sinais agudos de infecção (como febre ou dor intensa). Pode surgir após uma OMA ou devido a problemas na tuba auditiva (canal que liga o ouvido ao nariz).
Otite Externa Aguda (OEA): É a inflamação do canal auditivo externo (o "túnel" que vai da orelha até o tímpano). É a famosa "otite de nadador", mas pode ter outras causas.
Vamos detalhar cada uma delas:
1. Otite Média Aguda (OMA) – A Dor Súbita e Intensa
Causas: Na maioria das vezes, a OMA é uma complicação de infecções virais das vias aéreas superiores (resfriados, gripes). Essas infecções podem levar à inflamação e obstrução da tuba auditiva, facilitando o acúmulo de secreção e a proliferação de bactérias ou vírus no ouvido médio.
Sintomas:
Dor de ouvido (otalgia) de início súbito, que pode ser latejante e intensa.
Irritabilidade e choro fácil em bebês e crianças pequenas (que não conseguem verbalizar a dor).
Febre (nem sempre presente, mas comum).
Crianças podem puxar ou esfregar a orelha afetada.
Pode haver secreção no ouvido (otorreia) se o tímpano perfurar devido à pressão.
Perda auditiva temporária.
Às vezes, falta de apetite, vômitos ou diarreia.
2. Otite Média com Efusão (OME) ou Serosa – O "Líquido Silencioso"
Causas: Frequentemente, a OME se desenvolve após um episódio de OMA, quando a infecção melhora, mas o líquido permanece no ouvido médio. Também pode ser causada por disfunção da tuba auditiva (por alergias, hipertrofia de adenoide, etc.), que impede a drenagem adequada do ouvido.
Sintomas: A OME pode ser mais sutil e, por vezes, passar despercebida:
Sensação de ouvido "cheio" ou "tampado".
Perda auditiva leve a moderada (a criança pode parecer desatenta, pedir para aumentar o volume da TV, ou ter dificuldade na escola).
Estalidos ou zumbidos no ouvido.
Em crianças pequenas, atrasos no desenvolvimento da fala podem ser um sinal se a OME for crônica e bilateral.
Raramente causa dor ou febre.
3. Otite Externa Aguda (OEA) – A Dor ao Toque
Causas: Infecção da pele do canal auditivo externo, geralmente por bactérias. Fatores de risco incluem: umidade excessiva (natação, banhos de imersão), calor, pequenos traumas no canal (uso de cotonetes, unhas), ou condições de pele como eczema.
Sintomas:
Dor intensa no ouvido, que piora ao tocar ou puxar a orelha ou ao mastigar.
Coceira no canal auditivo.
Sensação de ouvido entupido.
Pode haver secreção (clara, amarelada ou esverdeada).
Vermelhidão e inchaço do canal auditivo.
Febre é menos comum.
Como o Diagnóstico é Feito?
O diagnóstico da otite é feito pelo médico no consultório. O médico perguntará sobre os sintomas, sua duração, intensidade, fatores de melhora ou piora, e o histórico de saúde da criança. Com um aparelho chamado otoscópio, o médico consegue visualizar o canal auditivo externo e o tímpano. Na OMA, o tímpano pode estar vermelho, abaulado e com mobilidade reduzida. Na OME, pode-se ver líquido ou bolhas atrás do tímpano, que pode estar opaco ou retraído. Na OEA, o canal auditivo estará inflamado.
Em alguns casos de OME, exames complementares como a timpanometria (para avaliar a mobilidade do tímpano e a pressão no ouvido médio) podem ser úteis.
Opções de Tratamento
O tratamento varia conforme o tipo de otite, a idade da criança e a gravidade dos sintomas:
Medidas Gerais para Alívio da Dor: Analgésicos e antitérmicos (como paracetamol ou ibuprofeno) são importantes para controlar a dor e a febre em todos os tipos de otite. Compressas mornas na orelha também podem ajudar.
Antibióticos: Muitas vezes são necessários antibióticos para combater as infecções agudas, tratando-se da OMA e da OEA; eles podem ser tópicos (gotas com ação direta no ouvido) ou sistêmicos (xaropes), dependendo do tipo de otite e do caso a ser tratado.
Limpeza ou aspiração dos ouvidos: em muitos casos será necessário um procedimento de remoção de secreção, cerume ou debris dos ouvidos, pelo médico otorrinolaringologista, para facilitar o tratamento.
Tratamento do quadro nasal: muitas vezes é importante tratar o nariz, reduzindo o edema e a secreção nasal, pois isso ajuda no tratamento de certos casos de otites.
Cirurgia (timpanotomia e colocação de tubos de ventilação): se a secreção no ouvido médio (OME) persistir por mais de 3 meses com perda auditiva significativa, ou causar complicações (como atraso de fala), a colocação de tubos de ventilação (drenos) no tímpano pode ser indicada. Ela também pode ser indicada em casos de OMAs de repetição.
Quando se Preocupar e Procurar um Médico Imediatamente?
Dor de ouvido forte que não melhora com analgésicos comuns.
Febre alta (acima de 39°C) ou persistente.
Saída de pus ou sangue pelo ouvido.
Inchaço ou vermelhidão atrás da orelha.
Alteração do estado geral da criança (muito prostrada, sonolenta).
Vômitos persistentes.
Se a criança for um bebê com menos de 3 meses e apresentar febre ou irritabilidade intensa.
Dicas de Prevenção:
Mantenha o calendário vacinal da criança atualizado (especialmente vacinas contra pneumococo e influenza).
Evite a exposição da criança à fumaça de cigarro.
Amamente exclusivamente até os 6 meses, se possível (o leite materno protege contra infecções).
Se usar mamadeira, ofereça com a criança em posição mais sentada, não totalmente deitada.
Controle adequadamente quadros de rinite alérgica.
Após natação ou banhos, seque bem a parte externa das orelhas com auxílio de uma toalha.
Evite cotonetes ou outras manipulações do canal do ouvido.
Conclusão:
A dor de ouvido é um sintoma que merece atenção, mas com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, a maioria das crianças se recupera bem e sem sequelas. Não hesite em procurar um bom otorrinolaringologista se seu filho apresentar sintomas de otite. Uma avaliação especializada é fundamental para garantir o bem-estar e a saúde auditiva dos pequenos!
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